Assisti semana passada a este clássico (Três Homens em Conflito // O Bom, o Mau e o Vilão // The Good, The Bad and The Ugly) com meu velho pai e notei diversas questões ali que são possíveis de serem tratadas como verdadeiras alegorias para temas afetos às criptomoedas. Tem um tanto de teoria dos jogos também, mas deixa pra outra hora hahaha
Eu observei que o filme já é usado para fazer várias abordagens, aqui no próprio Bitcointalk. Como não achei nada em português (é a primeira vez q assisto sem dormir e estou de molho, sem poder tomar uma gelada e nem sair pra brincar) e pretendo usar a questão para fazer uma introdução de algum tema das criptos a pessoas próximas a mim, achei interessante compartilhar. De neófito para neófitos.
(Daqui pra baixo é só spoiler - mas tbm não tem tanto problema, já que o filme é de 1966)
Puxa, vida. Filme longo da bodega que eu nunca tinha conseguido assistir completamente até perceber várias semelhanças com os temas de nossos interesses.
O filme se passa durante a Guerra Civil e começa com o Mau (também chamado de Angel Eyes, na legenda do DVD), contratado por Baker para fazer por uma pessoa conhecida apenas por Jacson. Com dificuldades para reunir informações sobre o paradeiro do tal do Jackson (deduz-se hehe), ele acaba conseguindo informações sobre uma pessoa que havia se encontrado com ele havia pouco tempo. O Mau vai até a casa desta pessoa e começa a questioná-lo. A pessoa logo deduz que Baker enviou o Mau até sua casa. Tão logo começam a conversar, já adianta que todas a informações que ele sabia já havia transmitido a Baker e que simplesmente não sabia sobre o paradeiro da caixa cheia de ouro, o que literalmente faz aguça a ganância do Mau, que havia sido contratado apenas para localizar Jackson, mas nada sabia sobre tais valores (aqui um problema no simples fato de a existência de uma carteira cheia de valores se tornar pública, como veremos a seguir). O sujeito, pressionado, revela que Jackson passou a usar o nome de Bill Carson (um exemplo de que mudar a carteira/endereço/etc até gerar algum atraso ao atacante, mas não necessariamente gera total segurança e sigilo, se for possível fazer o rastreamento do proprietário por meio de outros recursos).
O Feio (Tuco, o Rato) é procurado (têm inclusive recompensa para sua captura). Ele é capturado por três pistoleiros e é salvo pelo Bom (Lourinho, Blondie) - a partir de então, O Bom apresenta o Feio às autoridades, que pagam a ele a recompensa. Mas, quando a execução da pena de morte vai ser feita, o Bom surge e providencia que seja solto. Após a fuga, dividem a recompensa e tornam a fazer a mesma coisa - até que o Feio entende que deve receber uma parcela maior, por ter de colocar o próprio pescoço em risco. Num dado momento, após terem feito este golpe mais uma vez, o Bom, aborrecido com as reclamações do comparsa, rompe a parceria e abandona o Feio em um local distante de tudo, sem cavalo e sem provisões (e sem o dinheiro também que haviam conseguido), naquele desertão.
Em meio a estas trapaças feitas por Bom e Feio, ocorre uma cena em que o Mau se encontra ocasionalmente na mesma vila e recebe a informação de Jackson, além de realmente ter passado a usar o nome de Bill Carson, teria ido para a cidade de Santa Ana, onde teria uma esposa/namorada/consorte chamada Maria). O Mau, então, vai até a mencionada cidade e, embora Bill não esteja lá, ele encontra Maria (que acaba se traindo, pensando que quem está dentro da casa dela, mal iluminada, é Bill e chama por ele), a qual espanca até que lhe revele informações sobre o marido: ela informa que, havia alguns dias, partiu para determinada região, juntamente ao terceiro regimento do exército Confederado, ao qual havia se aliado. (Vejam aqui o problema gerado pelo simples fato de a pessoa ter informações importantes sobre uma carteira importante - o risco que se expõe, inclusive a outras pessoas)
O Feio consegue sobreviver ao ermo, capturar o Bom e impõe a ele uma vingança de morte: fazer uma caminhada, sem cavalo e sem provisões, mas com o dobro da distância - e Feio acompanha (a cavalo, cheio de provisões, usando uma sombrinha para se proteger do sol), para se certificar que o Bom não vai conseguir sobreviver, sempre lhe negando acesso a água e comida. O filme lida com assuntos intensos, mas, especialmente com o personagem Feio, proporciona alguns alívios cômicos.
Num dado momento, quando o Bom estava à beira da morte, próximo a eles passa, em disparada, uma diligência (aqueles carroções de velho oeste). O Feio consegue parar os cavalos e observa que, dentro da cabine, só havia pessoas mortas, com exceção de uma que, moribundo, pede água e oferece em troca informações sobre US$ 200.000,00: o próprio Bill Carson. Bill revela que o tesouro está em um grande cemitério (a chave pública), mas diz que só revelaria a sepultura (chave privada) se água lhe fosse servida.
O Feio vai buscar seu cantil, mas, ao voltar, é surpreendido, ao ver Bom caído ao lado de Bill, também caído, mas morto, logo após ter revelado o nome da sepultura (da pessoa que lá estaria enterrada), ou seja, a chave privada.
No bico do urubu, o conhecimento do nome da sepultura representa uma verdadeira apólice de seguro ao Bom (sem a chave privada, nada vale a chave pública - mas é importante recordar que o simples fato de não haver sigilo quanto à chave pública ou mesmo à existência de uma valiosa carteira gera enormes problemas), motivo pelo qual o Feio busca lhe promover socorro médico. Para facilitar circular pelo trajeto e até mesmo tentar buscar ajuda, ele usa uniforme cinza dos Confederados. Atendimento é prestado ao Bom, que se recupera e ambos partem na busca do tesouro. Claro, o Feio não revela qual é o cemitério.
Num dado local, observam que uma tropa vem em direção oposta - pensam que pela cor dos uniformes, seriam Confederados. Mas na verdade, os guerreiros estavam cobertos de poeira: suas fardas eram azuis, tropas da União que os capturam.
O Feio e o Bom são levados a uma unidade da União. Ao ser feita a contagem e conferência dos reféns (tipo chamada em sala de aula), o Feio se apresenta como Bill Carson (revela abertamente que ele pode ser a valiosa carteira - um exemplo do que não deve ser feito, aliás sobre qualquer coisa extremamente sensível, não apenas ouro, dinheiro, bitcoin - inclusive o simples fato de ficar navegando por informações sobre transações/endereços dos outros, o simples fato de tropeçar em transações/endereços realmente valiosos pode trazer para você atenção indesejada, risco e violação, mesmo sem ter interferência efetiva ou qualquer relação com a operação), evento que chama a atenção de um sargento, sim, o Mau (que se aliou ao exército da União, na busca de Bill Carson - um exemplo da busca incessante do atacante pela carteira valiosa), que aparentemente lhes presta tratamento cortês e até chama o Feio para terem uma refeição reservada. Após servir a refeição, o Mau o tortura (ou seja, um exemplo de toda sorte de merd@ que pode ocorrer quando não se presta atenção ao valor do sigilo e da privacidade) até que Feio cede e revela tudo: que o tesouro está no tal cemitério e que a sepultura é conhecida apenas pelo Bom. O Mau, então, leva o Bom para ir com ele buscar o tesouro (não entendi aqui por que ele não torturou o Bom também, provavelmente porque o filme terminaria aí hahahah), com proposta de que seja dividido. O Feio é deixado aos "cuidados" da União.
O Mau (acompanhado de outros pistoleiros que surgem no trajeto) e o Bom chegam a uma vila - uma vila que vem sofrendo bombardeio, à qual, após conseguir escapar, o Feio consegue chegar (não é uma coincidência, afinal ele tem o conhecimento da chave pública hehehe - aliás, aqui a demonstração de que a chave privada não tem valor sem a chave pública). O Bom consegue se despistar do Mau e localiza o Feio, a quem se alia novamente, na busca do tesouro. O Bom e o Feio eliminam todos os pistoleiros aliados ao Mau - o Mau, no entanto, foge, sem trocar qualquer tiro (neste momento, eu pensei que o Mau teria deduzido que a chave privada seria Jackson, o antigo nome de Bill Carlson, tocado o "f@da-se" e ido buscar o tesouro - um belo exemplo para não usar senhas fracas para coisas importantes - mas isto não ocorre, pois faria o filme encerrar aqui).
Seguem, então, o Bom e o Feio em busca do cemitério. Num determinado local, em que tropas Confederadas e da União disputam o domínio de uma ponte, ambos fingem se aliar à União, como uma forma de conseguir transpor a região - a noite passa sob intenso conflito e, no dia seguinte, eles até auxiliam na explosão da tal da ponte. Momentos antes, o Feio propõe que cada um revele a sua informação secreta - o Feio fala o nome de um cemitério; o Bom fala o nome de uma pessoa.
Na direção do tal do cemitério à pé, encontram um prédio em ruínas, onde acham um cavalo e alguns recursos. O Feio, então, toma o cavalo pra si e abandona o Bom (seguem cenas clássicas, com o Clint Eastwood atacando o feio com tiros de canhão, com uma trilha sonora sensacional, q o Metallica usa na abertura de seus shows). Um exemplo de que sempre se deve presar pela segurança e privacidade da informação, jamais confiar em nada, em ninguém
Mesmo perdendo o cavalo, o Feio consegue chegar ao cemitério. Ele busca a sepultura e, quando consegue alcança a tampa do caixão, chega o Bom. Pouco tempo depois, quando estão prestes a abrir o caixão, chega também o Mau. Aí, de novo, exemplos do problema de se revelar a chave pública.
Antes que o Mau fizesse qualquer coisa, o Bom alerta que, caso o Mau atirasse, não veria nenhum centavo do tesouro e, em seguida, chuta a tampa do caixão, revelando que nenhum ouro havia ali e que a informação que havia passado a Feio não era verdadeira. A importância do sigilo sobre a chave privada (aliás, o Feio esboça atacar o Bom com uma pá, mas não faz nada). O Bom, então, propõe escrever o nome da sepultura em uma pedra, para resolverem a questão por meio do impasse mexicano - quem sobreviver, tem acesso à chave privada.
Todos topam e quem perde, inicialmente (hehehe no impasse mexicano, ganha quem não perde, "quem atira por último"), é o Mau. Logo em seguida, o Feio aponta a arma na direção do Bom, mas nenhum disparo é feito, pois, na noite em que passaram como que aliados da União, o Bom havia deixado no revolver do Feio apenas uma munição, tendo retirado as demais. Um exemplo de como a estratégia e o controle da informação podem ser trabalhados em favor da sua segurança.
Eu fiquei pensando, que, se eu fosse o bom, não teria escrito porcaria nenhuma na pedra (pra pqp esses dois hahaah) e de fato foi mais ou menos isso mesmo que ocorreu - aqui mais que um exemplo do valor do sigilo, mas também de que a informações podem não ser tão óbvias, podem ser enigmas que podem trabalhar a seu favor: o Bom não havia escrito nada na pedra (deixou em branco mesmo): na verdade, o tesouro estaria em uma sepultura sem nome, com placa com o escrito "desconhecido" (unknow), ao lado daquela que ele havia, antes, indicado falsamente. A estratégia dele poderia permitir que, caso o Mau o matasse primeiro, o Feio pudesse localizar o tesouro, caso vencesse o impasse e resolvesse o enigma - para isso, como só teria uma munição, o Feio não poderia disparar o primeiro tiro contra o Bom (nem ser burro, pois não poderia confiar que o Bom tivesse escrito algo correto ali, poderia ter escrito qualquer nome, um palavrão, etc.) (claro, ainda haveria a possibilidade do Mau matar ambos, mas, sem revelar informações importantes, o Bom fortaleceu a própria segurança no conflito, trazendo para si maiores chances de que o Mau fosse o primeiro atingido).
No final, o Bom acaba deixando metade do ouro para o Feio (não sem se assegurar de que o Feio não o atacasse imediatamente).
Enfim. É isso.
Ficou meio longo, mas o filme é longo. Fiquem à vontade para apresentar correções, sugestões, etc.
att
Cartola
Ps.: vou atualizando, à medida que lembrar de algo adequado e também para fazer correções.