Quatrocentos anos atrás isso daqui era mato, esparsamente habitado por indígenas. Aqui ou ali, algumas missões ou povoações ocupavam esse vasto território. Uma cultura mestiça do amor pela independência e liberdade indígena e do espirito aventureiro e descobridor português se formava no interior paulista. Nela surgiram dezenas de empreendedores e aventureiros que saíram em busca de ouro e pedras preciosas por esse mato afora. O legado deles não foi trazer o ouro ou as riquezas, mas sim abrir os caminhos que permitiram o povoamento desse interior todo, que chamamos hoje de "caipira".
Quatro anos atrás a criptoesfera era mato, esparsamente habitada por uns poucos "indígenas". Amantes da Liberdade e independência que o bitcoin nos trazia, mas sem o espirito desbravador que nos faria "querer mais". E foi nesse mesmo interior paulista, nessa mesma cultura "caipira" de empreendedorismo e liberdade que surgiram dois empreendedores aventureiros, dispostos a desbravar esse "mato" todo. Onde era floresta, eles abriram caminho, onde não havia nada, eles levaram a cripto-civilização. Foi com a ajuda deles que esse "mato" todo virou uma cultura efervescente e criativa. Foi crescendo junto com eles que o Bitcoin e as criptomoedas deixaram de ser uma coisa de uns poucos "índios" e viraram parte do "mainstream".
Eu confesso que eu era um "índio". Adorava aquela tecnologia nova, mas não sabia o que fazer com ela. E foi com esses dois desbravadores que eu aprendi a crescer e a criar dentro da criptoesfera. Foi através deles que eu aprendi que pro bitcoin ser aquilo que a gente sonhava, a gente tinha de parar de sonhar e começar a fazer! Foram com eles que deixamos de ser "selvagens" e nos tornamos uma civilização.
Acho que não preciso "desenhar", que um desses dois de quem falo é o Guto Schiavon. Nesses quatro anos os caminhos desbravados eram tantos que nos levaram pra lugares distintos. Continuávamos "trocando ideia" de vez em quando, mas nem tanto quanto antes. Ainda assim, ele era um cara que eu admirava e respeitava, se não pelo sucesso, pelo menos por me fazer deixar de ser "índio".
(Aqui faço um aparte, estilo Machado de Assis, pra dizer que foi difícil escrever esse texto, porque a cada parágrafo meus olhos mareavam e eu precisava parar para me recompor).
Dia 25 foi um dia triste pra mim. Um dia que era pra ser de alegria virou de tristeza e luto. Perdemos o Guto. Perdi um guia, um sujeito que 20 anos mais novo que eu, ainda assim me fez crescer. Não vamos sentir falta só daquilo que ele representa e construiu. Vamos sentir uma saudade imensa da pessoa que ele é! Descanse em Paz Guto. Sua obra vai continuar.
* publicado originalmente no facebook, copiei aqui pra dar mais permanencia.