Esse post eu escrevi no facebook, então algumas coisas podem ficar estranhas aqui no btctalk. É um resumo do que eu assisti da IV Bitconf que rolou nesse final de semana em Belo Horizonte.
O que rolou na IV BitconfBom gente. primeiro já vou começar esclarecendo que esse é um relato pessoal da IV Bitconf, não um relato oficial, nem completo, nem puramente factual. 99,9% do que tem aqui é opinião, os outros 10% são impressões parciais do que aconteceu. Mas acha que minha experiência na Bitconf pode ser uma fonte legal de informação pra quem não foi.
A IV BitconfComo a maioria do pessoal, imagino, o objetivo não era só assistir as palestras, mas sim conhecer pessoas, medir o “clima” da comunidade bitcoin, ter novas ideias e ver as ideias que o resto da galera estava tendo. Então vou tentar falar desses aspectos todos.
A Bitconf desse ano aconteceu em Belo Horizonte, MG. Como é minha cidade de origem, onde tenho família e tudo, animei a ir dessa vez. Acabei optando por ficar no hotel da própria conferencia (Mercure Lourdes) pela facilidade de locomoção, já que minha família que poderia me hospedar morava em regiões mais distantes da cidade. O local da conferencia era muito bom, e parece que a infraestrutura era de qualidade (mas quem pode falar mais sobre isso é o Wladimir Crippa, o Marcelo Brant e os outros organizadores). O coffee -break era excelente e bem farto, e a localização central permitia acesso a vários restaurantes e locais da cidade. Enfim, os organizadores estão de parabéns!
As palestrasInfelizmente eu não pude assistir todas por questões logísticas (tinha de visitar família, etc), então vou fazer um resuminho do que vi e do que achei de cada uma, e deixar pra outras pessoas comentarem as que eu não pude ver.
Primeiro diaO primeiro dia começou com a palestra do André Horta. A palestra era introdutória ao bitcoin e ao ecossistema bitcoin no Brasil e no mundo, e claro focada em promover o uso de bitcoin. Apesar de ser focada em um publico leigo e empresarial, a palestra é muito boa e dá ideias bacanas sobre como divulgar bitcoin nesse meio. O André é um excelente palestrante, e a palestra dele foi fluida e participativa, e acredito que uma excelente opção pra abertura do evento, pra cativar o publico “não iniciado” que estava lá.
Em seguida veio o Jonathas Carrijo, da Biscoint.io. Eu confesso que estranhei tanto o tema como o começo da palestra dele. Ele falava sobre como a gente precisa gastar os bitcoins pra movimentar a economia, mas de uma forma muito teatral, e pouco informativa. E como não é (era?) esse o foco da Biscoint, achei bem estranho mesmo. Já na metade da palestra tudo mudou. Ele começou a apresentar o novo projeto dele, e ai o “teatro” do inicio se encaixou! O Hodler (hodler.io), novo projeto dele, é na minha opinião a maior inovação que foi apresentada ali na Bitconf. Talvez mereça até um post a parte. Em linhas gerais, é simplesmente um sistema que monitora sua carteira e permite que você reponha os bitcoins a preço de mercado, sempre comprando pelo preço mais barato (ai entra então a relação com a biscoint.io). De certa forma um incentivo para que os “hodlers” possam continuar “hodlando”, mas movimentem a economia bitcoin com gastos de dia a dia. Eu sei que isso não parece nada de mais, mas o “pulo do gato” é o que vem depois: O hodler “retém” os bitcoins comprados ao longo do mês, e ao final apresenta uma fatura a ser paga pelo usuário. Paga essa fatura, os bitcoins são “liberados” e o usuário fica novamente com aquele “limite” para gastar durante o mês.
Foi bem aqui que meu foco de atenção mudou. Tem um ano que eu discuto com minha esposa (bancária de profissão e vocação) sobre o bitcoin precisar dos mecanismos de credito ao consumidor que o sistema bancário tem pra poder deslanchar. E o Hodler é isso! Um mecanismo de credito direto, como um cartão de crédito, pro usuário usar em bitcoins. Como a gente diz em minas, “meus olhim enchero d’água” nessa hora! O cara tava apresentando uma solução pra um problema chave do bitcoin, que eu tava matutando a meses! E a solução no final era “boba” e simples :-D Taí um projeto que eu torço pra dar certo!
Se a bitconf tivesse parado por aí eu já estaria satisfeito, mas teve mais coisa legal! Depois do Carrijo veio Luiz Felipe Martins, da Bitvale, apresentando um ATM Bitcoin desenvolvido por eles. Confesso que hardware não é meu forte, então apesar de parecer tecnicamente muito boa a solução que eles criaram, não sou a melhor pessoa pra avaliar. Do lado de fora eu já tinha conversado com ele bastante, e visto o funcionamento da maquininha. Ela é pratica, intuitiva e principalmente, barata comparada com outras opções. Do ponto de vista comercial é um grande avanço ter alguém como eles produzindo ATMs no Brasil.
Nessa hora eu sai pra almoçar e “bati” um PF num boteco próximo.
PF com tropeiro, Carne de panela, pedaços de bacon no macarrão e tudo mais que a culinária de rua mineira permite! Bão demais da conta!
Pra quem vai a BH, não vão atrás de “restaurante de comida mineira”, comam um bom PF, uma comida em algum boteco, que é neles que mora a verdadeira gastronomia de BH!
Voltando a Bitconf, a tarde começou com o Diego Vellasco falando sobre segurança. Um conteúdo que as vezes pode ser chato, mas que é importante pra quem mexe nessa área. Saber quem são os inimigos e quais recursos você pode contar para proteger seus sistemas e os ativos dos seus clientes é essencial. A palestra conseguiu manter um nível adequado pro público leigo, sem deixar de ser relevante pro público técnico.
Em seguida A Palestra do Gustavo Grossi (não consegui linkar ele, alguém sabe o perfil dele?), sobre produção de conteúdo. O foco dele é em produção de posts relevantes de blog, com otimização de SEO para atrair o público relevante. Alias, ele tem uma influencia bem grande e em estar escrevendo esse texto. Acho que se não fosse pela palestra dele eu nem teria animado. Por alto, o conteúdo da palestra era: contrate um ghost writer, mas não deixe tudo a cargo dele, o publico precisa “sentir” a presença dos responsáveis pela empresa. Use as ferramentas de SEO pra otimizar seu blog nas buscas, produza conteúdo relevante pra atrair o seu publico pra pagina da sua empresa.
A ultima palestra do sábado foi outro ponto forte. O Ricardo Linhares é um palestrante de primeira. Em termos de qualidade da apresentação posso dizer sem sombra de dúvida que a palestra dele foi a mais cativante. Além disso ele trouxe uma perspectiva muito diferente da que vinha sido abordada até então: Como o bitcoin se encaixa no sistema de comercio internacional, e onde os entusiastas e empresas do ramo devem atuar nesse meio. Uma introdução excelente ao mundo do comércio exterior seguida de ideias e potenciais do bitcoin nesse mundo. A gente precisa MUITO de gente fazendo isso que ele fez: identificando os problemas e potenciais para soluções envolvendo o bitcoin, procurando nichos e mercados em potencial, saindo da rotina de olhar pro próprio umbigo e tentar fazer de novo aquilo que já fizeram antes. Excelente pra gente pensar fora da caixinha de hodler/trader/noob que estamos acostumados.
Cervejada!Por coincidência, a Bitconf caiu no mesmo final de semana que o aniversário da Foxbit, então boa parte do pessoal foi lá. Foi bom pra bater papo e conhecer mais gente de BH, saber mais sobre como anda o cenário mineiro de bitcoins e tudo mais. Além é claro de matar a saudades de uma cachacinha da roça (branquinha, que desce rasgando o peito e despedaçando os sonhos). A dedicação da galera à “causa” bitcoin ficou bem evidente. E claro, um agradecimento especial ao Guto Schiavon, João Canhada e ao Raphael Soffieti pelo evento.
O DomingoO domingo começou técnico, muito técnico (e isso é bom)! A primeira palestra foi do Fernando Guisso, da pague.nu. Ele precisa melhorar ainda a autoestima na hora de se apresentar. Mas apesar do inicio quase autodepreciativo, foi uma ótima aula de como interagir com as APIs do bitcoin. O que você precisa, como fazer, etc. Excelente ponto de entrada para quem é desenvolvedor e quer começar agora nesse mundo.
Em seguida veio o Eduardo Ribeiro Filho, da Capital Digital Aberto. Ele apresentou os principais produtos da empresa, onde eles usam bitcoin como backend pra diversas operações financeiras focadas no mercado imobiliário. Do ponto de vista de produtos, a CDA está extremamente avançada com já uma utilização extensa das tecnologias do bitcoin. Mas a palestra acabou se alongando demais, e ficamos sem saber qual seria o produto chave da empresa. As perguntas no final ficaram focadas só no ultimo produto apresentado, que nem parece ser o “carro chefe” da empresa. Uma apresentação mais focada em um único produto seria mais atrativa pra cativar o publico do evento. De certa forma essa palestra foi complementar à palestra do Ricardo Linhares da véspera, já que alguns dos produtos da CDA suprem as necessidades apontadas por ele para o comércio exterior.
Depois do almoço foi a vez da palestra do Corrado Lantieri. Infelizmente, acabei me atrasando pra voltar do almoço e perdi essa palestra. Mas confesso que pelo que ouvi, não perdi muita coisa. Pelo que parece, o que ele faz é MMN, e nem preciso dizer o que acho de MMN.
Em seguida veio o Esdras Eduardo. De longe a melhor palestra técnica do evento, mas talvez excessivamente técnica pro nível do pessoal presente. Estimo que só uns 50% da audiência eram realmente desenvolvedores. Ele mostrou passo a passo como desenvolver smart contracts na plataforma Ethereum, mostrou as ferramentas que já existem e o que esperar de ferramental pro futuro (tem coisas interessantes vindo aí). Minha relação com os smart contracts, em especial com o modelo de smart contracts da Ethereum, é controversa. Por um lado eu acredito em smart contracts como uma excelente ferramenta que só é possível através do uso de criptomoedas, por outro lado, a imutabilidade dos contratos aliada à falibilidade do modelo de programação (em especial um modelo aberto como na Ethereum) gera muita margem pra erros com potencial de prejuízo imensos. O modelo de desenvolvimento para contratos ainda precisa evoluir muito até que eles sejam realmente uma ferramenta confiável (aqui eu falo de processos e ferramental de engenharia de software mesmo).
Mas voltando da digressão pra palestra, o Esdras não falou isso abertamente, mas eu passei a enxergar o ferramental de smart contracts da Ethereum como bem mais que o conceito tradicional de smart contracts (i.e., operações envolvendo dinheiro que são disparadas de acordo com regras fixas), mas sim como uma plataforma de desenvolvimento para aplicações distribuídas, que podem nem mesmo envolver dinheiro (a não ser pela remuneração de quem processa as requisições pra você). Seguindo esse caminho, não de contratos financeiros e sim de aplicações que tem suas regras de negócio processadas de forma distribuída na blockchain, acredito que os smart contracts tenham um grande futuro pela frente.
Infelizmente logo depois da palestra do Esdras eu tive de abandonar o barco (não sem antes aproveitar o coffee break, que novamente estava excelente). Então não vou poder falar das palestras seguintes. Peço desculpas ao Fabiano Dias, Antonio Hoffert e ao Sebastián Serrano por isso. Mas tive grandes conversas com todos os 3 do lado de fora das palestras e no coffee break que foram super esclarecedoras e produtivas.
Rádio corredorClaro que a grande atração do congresso são as conversas fora do evento principal, no corredor, com um pão de queijo, um cigarro ou um café na mão. Foi ali que conversei bastante com o Wladimir Crippa e o Marcelo Brant sobre o evento, a comunidade e as ideias do bitcoin. Foi ali que eu tive conversas sobre empreendedorismo, financiamento de projetos, inovação e startups com o Jonathas Carrijo e o Fabiano Dias. Foi ali que tive papos técnicos com o Esdras Eduardo e o João Vitor (sorry, não consegui te marcar). Onde conheci e bati papo com o Douglas Boldrini, Joeldo Holanda, Raphael Soffieti, Rafael Felício e outras personalidades do bitcoin. E onde conversando com o Sebastián, mudei muito minha visão da Ripio, e entendi muito do que acontece no funcionamento dela. Foi uma pena eu não conseguir assistir a palestra dele, acho que tinha muito a acrescentar, principalmente na área de atuação da Bitpagos, que é serviço de “merchant” que antecedeu a Ripio. E eu ainda queria uma explicação menos evasiva de como diabos ele consegue aqueles preços
Enfim, foi um encontro muito proveitoso, conheci muita gente, fiz muitos contatos e tive uma visão ampla do cenário de empreendedorismo ligado a bitcoin (e tive também umas trinta ideias de palestras pra fazer o ano que vem, vamos ver se alguma delas vinga).
Agradeço todo mundo que ajudou a tornar isso realidade, e peço encarecidas desculpas pelos erros e omissões. Quem puder, sinta-se a vontade pra me corrigir e comentar, porque como eu disse no começo, esse texto é feito de opiniões e impressões pessoais que aceitam tanto correções como críticas. E ajudem a marcar as pessoas que eu não consegui (em especial o Joao Vitor, o Sebastian, o Gustavo Grossi e o Ricardo Linhares).
No mais, Gerais!