O Bitcoin continua se espalhando por todo o mundo e atingindo altas impressionantes de valor, mas o crescimento incrível da criptomoeda em um país específico – a República Popular da China – deixa todos na comunidade boquiabertos. Superando o famoso Mt.Gox, o câmbio BTCChina tornou-se recentemente o mais ativo do mundo. Além disso, os chineses foram os que mais buscaram baixar carteiras de Bitcoin recentemente, pagaram o maior preço por uma única BTC e passaram também a liderar a mineração do dinheiro digital. Mas, afinal, o que está por trás de tamanho interesse?
Aparentemente, o que iniciou a febre do Bitcoin no país, meses atrás, foi justamente um documentário favorável exibido na TV estatal chinesa (CCTV), cuja programação é pautada pelo governo. Mas por qual razão um governo centralizado, com forte controle da economia, apoiaria o uso de uma moeda criada justamente para burlar regulamentações estatais e o próprio sistema financeiro? Foi exatamente isso o que a imprensa internacional se perguntou nas últimas semanas, quando matérias destacando o estranho crescimento chinês foram destaque em meios de comunicação importantes mundo afora.
De maneira entusiástica, a rede russa RT comemorou o boom do Bitcoin no gigante asiático e destacou que “as oportunidades da criptomoeda na China não têm limites”. De acordo com a reportagem, o motivo para o aumento do interesse em moedas alternativas deriva da natureza “poupadora” do povo chinês. Em entrevista à agência de notícias AFP (reproduzida na matéria da RT), o vice-presidente do câmbio BTCChina Linke Yang afirma que “a principal razão para o Bitcoin ter se tornado algo grande na China é o fato de os chineses estarem acostumados a poupar, e cada vez mais eles enxergam o Bitcoin como uma boa alternativa para guardar e investir dinheiro”. A RT também afirma que a moeda ganha força na classe média alta, principalmente com a disseminação de novos desenvolvimentos na área do e-commerce que aceitam BTC. Por fim, a reportagem se pergunta se o governo chinês – dado a manipulações da sua moeda (yuan) e a um notório controle estatal da economia – planejaria criar regras para restringir as transações com o Bitcoin, mas não explora o assunto em detalhes.
Outra importante publicação que comentou a fama do Bitcoin na China foi o prestigiado jornal econômico Financial Times, que parece tender para a opinião de que o sucesso do BTC por lá se dá justamente pelo fato de a moeda não ser regulada, facilitando remessas de dinheiro para fora do país. Em matéria escrita por um correspondente em Xangai e intitulada ‘China e seu amor montanha-russa com o Bitcoin’, o FT destaca que o interesse dos chineses na criptomoeda se dá principalmente para tentar contornar algumas das regras estritas impostas pelo governo centralizado. Eles também falaram com um executivo do câmbio BTCChina, Bobby Lee, que afirma: “Se você olhar o Bitcoin de uma perspectiva tecnológica, você percebe que ele não pode ser facilmente controlado. E os chineses adoram isso”. O FT também comenta como as pessoas envolvidas com o mercado do Bitcoin na China estão contornando a possibilidade de regulamentação e buscando passar uma imagem de legalidade para o BTC.
Leia um trecho da reportagem, em tradução livre:
“A ausência de controles da moeda digital peer-to-peer, adquirida majoritariamente de forma anônima e além da supervisão de governos nacionais, é o que tem preocupado reguladores mundo afora. Mas na China, um país com estrito controle de capital, isso faz parte do que faz o Bitcoin tão atrativo. O Bihang, outro câmbio chinês, usa esse argumento para vender seu peixe. ‘Em 200 milisegundos, você pode mover dados de Bitcoin para os EUA, praticamente sem custos. O mundo nunca foi tão plano’, diz o câmbio em seu site. O potencial para burlar o controle de capital fez que surgissem céticos, que já comentam se o governo chinês vai tolerar as transações com Bitcoin. Pequim ainda precisa dar a sua opinião oficial. Formado em Ciências da Computação por Stanford e antigamente um engenheiro de software da Yahoo, Bobby Lee, do BTCChina, é cuidadoso ao pontuar que o câmbio está sujeito às leis chinesas e só aceita consumidores com contas de banco locais. Os apoiadores enfatizam os usos legais do Bitcoin, como a redução de custos de transações online. Alguns vendedores do importante site de ecommerce Alibaba passaram a aceitar BTC. Até uma empresa de venda de terrenos e propriedades, a Shangai Tiandi, anunciou que também passará a aceitar pagamento em BTC, embora ninguém ainda tenha usado a opção”.
Por fim, outro meio de comunicação gabaritado – a Forbes – também falou da explosão do BTC e outras criptomoedas em território chinês, atingindo uma maior profundidade na explicação sobre a disseminação de moedas alternativas no gigante asiático. A revista comenta que o sucesso da moeda alternativa pode ser explicado por um suposto triângulo entre negócios de Bitcoin, a gigante de buscas Baidu e o apoio do governo chinês. Vale destacar um trecho do comentário:
“O que está havendo? Duas menções favoráveis na mídia estatal – na Televisão Central da China (CCTV) e no People’s Daily, pertencente ao Partido Comunista – sinalizaram que Pequim torce pela nova moeda. Mais do que isso, em 15 de Outubro, o Jiasule, um serviço de firewall para websites ligado ao Baidu, anunciou que passaria a aceitar bitcoins. Uma fonte anônima ligada ao Baidu falou ao Wall Street Journal que a decisão foi tomada por um parceiro comercial, conhecido como Knownsec Information Technology Co. Não há razão para duvidar da informação, mas é inconcebível pensar que o Baidu não se consultaria com o governo chinês antes de permitir a aceitação de bitcoins. Se permaneciam dúvidas de que o governo de fato está do lado do Bitcoin, Yu Gang as apagou. Comandante do Banco da China, o banco central, ele disse que Pequim não reconhecerá o Bitcoin como meio de troca em um futuro próximo, mas que as pessoas estão livres para participar do mercado de Bitcoin”. Mais a frente, o artigo afirma que existem “várias razões para o governo de Pequim gostar da nova moeda”, sendo a principal o potencial do dinheiro digital para diminuir o papel do dólar como a reserva mundial.
Se de fato esse é o principal motivo para a disseminação do BTC na China e para uma suposta vista grossa das autoridades, ainda não sabemos ao certo. O fato é que, apesar de já se mostrar impressionante, a relação de amor entre Bitcoin e a China parece estar apenas começando, e devemos ver desdobramentos do tópico nos próximos meses. Esperemos as cenas dos próximos capítulos.