Por que São Paulo quer pagar por Infraestrutura com Criptomoeda
O estado brasileiro de São Paulo está olhando para as criptomoedas para ajudar a resolver seus problemas de infraestrutura.
O estado, que abriga 45 milhões de habitantes e a cidade de São Paulo - a maior metrópole do hemisfério sul e a terceira maior do mundo - planeja usar um token chamado buildcoin para pagar engenheiros em todo o mundo para estudos de viabilidade. Esses estudos são necessários para avaliar a praticidade e justificar a despesa de grandes projetos de construção.
Para testar o conceito, São Paulo fara um crowdsource* e financiará estudos desta forma para o programa Ilumina SP, que visa trocar sistemas antiquados de iluminação pública por alternativas mais novas e mais eficientes.
Se bem-sucedido, a solução blockchain poderia ser uma solução alternativa para os governos que desejam investir em infraestrutura, mas não têm dinheiro para pagar estudos credíveis independentes (que são necessários para atrair investidores externos e fazer a bola rolar em projetos) ou o acesso ao conhecimentos necessários.
Autoridades de São Paulo dizem que um modelo que pode atrair mais mentes de todo o mundo e compensá-las com criptomordas pode ajudar o Estado a atender às suas necessidades de infraestrutura de forma mais transparente, mais barata e mais rápida do que o processo existente.
"Nós gostamos de inovação em São Paulo, e blockchain e criptomoedas estão sendo seguidas como inovações extremamente interessantes com as quais tivemos que começar a experimentar", disse Hélcio Tokeshi, secretário de tesouraria do estado de São Paulo, a CoinDesk.
Como funcionaO Estado está se associando a esta iniciativa com a CG/LA Infrastructure, a Washington, D.C., consultoria e a Fundação BuildCoin, com sede em (onde mais?) Zug, Suíça.
O projeto piloto alavancará a rede global de 60.000 especialistas em infraestrutura da CG/LA com o token epônimo da fundação, que é projetado para criar um ecossistema de pagamentos alternativo para o setor da construção.
Primeiro, os governos enviariam propostas de estudo para a Fundação BuildCoin para verificação. Projetos selecionados seriam dados a luz verde e ventilados para especialistas no banco de dados da CG/LA.
É aí em que a moeda, um token ERC-20 que funciona em cima do blockchain ethereum entra.
Por exemplo, um engenheiro na Finlândia que se especializa em pontes poderia receber um convite para colaborar em um estudo de viabilidade para uma ponte encomendada por um governo local no Brasil. Ele receberia uma remuneração em buildcoin com base em sua contribuição geral para o projeto, medido em um sistema semelhante a Reddit, onde outros participantes podem votar para cima ou para baixo a qualidade de seu trabalho.
Por que o engenheiro aceitaria o pagamento em um token digital especializado em vez de dinheiro que ele pode gastar no supermercado local? Se tudo for de acordo com o plano, os buildcoins eventualmente seriam permutáveis por outros serviços no mesmo ecossistema, como a subcontratação de outras empresas participantes, pesquisas de mercado e treinamento profissional.
Semelhante a muitos projetos de blockchain baseados em token, a proposta de valor torna-se mais forte quando mais participantes se juntam à rede - desde que o problema inicial de ovo e da galinha seja superado.
Desta forma, CG/LA e BuildCoin acreditam que um blockchain e uma criptomoeda nativa para a indústria de infraestrutura e construção não só aliviarão os encargos dos governos, mas também abrirão novas oportunidades para especialistas em assuntos do mundo que estão ansiosos para contribuir com projetos, mas historicamente tiveram dificuldade em encontrar estudos ou colegas para combinar com seus conjuntos de habilidades particulares.
"A colaboração é quase o Santo Graal da infraestrutura", disse Norm Anderson, presidente e CEO da CG/LA. No entanto, antes que a idéia do token surgisse para incentivar os membros da rede, ele disse:
"Não havia como conseguir que ficassem engajados em um nível elevado de forma consistente".
Embora exista indubitavelmente alguma incerteza envolvida com essa abordagem inovadora, Tokeshi argumentou que, para São Paulo, os benefícios potenciais de um livro público auditável e uma maneira de pagar por estudos sem utilizar os fundos dos contribuintes superam os riscos:
"É uma inovação e isso, por si só, exigirá que as pessoas levem algum tempo para estudar e entender. Por outro lado, ganhamos aumentando as fontes potenciais de financiamento para os projetos, ganhando mais visibilidade e transparência".O desespero gera inovação
Diante de uma crise econômica e de um controle dos cofres do governo mais apertado nos últimos anos, as despesas de infraestrutura no Brasil diminuíram para cerca de 1% do produto interno bruto - significativamente menor do que a média global de 4% e insuficiente para atender até mesmo aos requisitos básicos de manutenção.
Tradicionalmente, os empreiteiras brasileiras - conglomerados de construção maciça - realizaraim os estudos de viabilidade e o trabalho de construção de um determinado projeto depois de vencer o contrato do governo.
Mas, devido a um contínuo escândalo de corrupção, que viu uma série de magnatas da construção presos, esses conglomerados foram amplamente removidos do cenário.
Esta situação deixou os governos locais em busca de uma nova maneira de pagar pelos estudos, que geralmente correm entre $500.000 e $1 milhão.
Mas criou uma janela de oportunidade para o buildcoin.
Se não fosse pelo escândalo, Anderson disse:
"Nós não teríamos um projeto porque alguma empreiteira estaria em cima disso prometendo alguma mágica dizendo "confie em mim, não se preocupe com isso, basta enviar os cheques para essa conta no Panamá ".
Um problema globalComo ex-assessor informal do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre questões de infraestrutura, Anderson argumenta que o modelo de buildcoin, se for bem sucedido, poderia ser implantado fora do Brasil para ajudar a resolver o enorme problema mundial do subinvestimento de infraestrutura.
O investimento global em infraestrutura é inferior ao objetivo cerca de $1 trilhão por ano, e nos EUA, a Sociedade Americana de Engenheiros Civis calcula que são necessários $3,6 trilhões em gastos nos próximos cinco anos apenas para manter e atualizar a infraestrutura existente.
Além disso, o problema de financiar os estudos necessários para lançar esses projetos se expande muito além do Brasil.
Anderson estima que existem 80 mil projetos de infraestrutura propostos em todo o mundo em um determinado ano, mas apenas $200 milhões em fundos estão disponíveis para estudos de viabilidade, o que significa que apenas cerca de 400 estudos são realizados anualmente.
E porque os estudos freqüentemente não se traduzem em projetos reais, eles tipicamente causam uma série de orçamentos e dores de cabeça políticas para os governos.
"Se eu fizer um estudo, o projeto pode não se materializar por vários anos, então está fora do ciclo político. Então, por que vou fazer um orçamento para algo hoje que não vai ser feito até muito tempo no futuro?" disse John Cronin, presidente da Fundação BuildCoin.
Caso a parceria Ilumina SP seja bem-sucedida, Anderson disse que os próximos passos serão expandir para outros tipos de projetos de infraestrutura importantes, mas não controversos, como tratamento de águas residuais e transporte, no Brasil e em outros mercados.
"Estamos injetando a velocidade do setor privado no processo de criação de infraestrutura", disse ele, acrescentando:
"Esta não é a panaceia. É um catalisador que é profundamente necessário como parte de um novo modelo de originação de projeto de infraestrutura".